A notícia é triste, mas não surpreende. Saiu o laudo que explica a morte de um trabalhador rural em Pontal, no interior de São Paulo: ele foi intoxicado pela fumaça da queimada da cana-de-açúcar. De acordo com a agência de notícias da EPTV, Sidney dos Santos, de 41 anos, acabou sendo carbonizado quando fazia a queimada na usina Bela Vista há pouco mais de um mês.
Relatório do Ministério do Trabalho e Emprego apontou falta de treinamento e ausência de equipamentos de segurança. Os trabalhadores usavam três linhas de fogo e não uma, como é o costume. Mas a opção pela rapidez no serviço também faz com que a queimada fique incontrolável. Neste caso, o vento forte também ajudou, redirecionando o fogo e atingindo o trabalhador.
Segundo a EPTV, o advogado da usina Bela Vista, Eduardo Velocci disse que a empresa “sempre segue as determinações legais. Fomos surpreendidos pela virada da natureza”. Como sempre é mais fácil culpar quem não pode se defender.
A usina foi multada em R$ 4 mil, uma fortuna, e terá que se ajustar. Segundo os auditores fiscais, a queima da cana naquela área ainda não estava liberada pelo Departamento Estadual de Recursos Naturais (DPRN).
Ontem, o corpo de outro homem foi encontrado carbonizado em um canavial, também em Pontal. A polícia investiga o caso como homicídio.
As queimadas (que estão com os dias contatos no Estado de São Paulo) ajudam a torrar o diferencial ambiental da cana-de-açúcar no Brasil, gerando graves impactos não só para o meio, mas também para quem mora perto das usinas. Agora, estão levando os cortadores – que já tinham problemas suficientes – junto.
Ruim com a queima, ruim sem a queima. O avanço da mecanização não resulta apenas no corte de vagas, mas na intensificação do desgaste físico por parte dos cortadores. A cana crua (não queimada) e deitada acaba “sobrando” para os trabalhadores manuais. Antes de fazer o corte, é preciso levantar primeiro os pés do chão, o que demanda um esforço adicional considerável. Muitos trabalhadores trabalham domingos e feriados (não têm descanso semanal remunerado) e, no sistema de trabalho em vigor, a usina impõe o ritmo.
A solução passa por criar alternativas de emprego e renda a esses trabalhadores que não as condições precárias, degradantes ou insalubres dos canaviais. Coisa que nós estamos devendo a eles, que enchem o nosso tanque de etanol com seu suor diariamente.
Texto de Leonardo Sakamoto, jornalista e Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu a guerra pela independência em Timor Leste e a guerra civil angolana. Foi professor do curso de jornalismo da ECA-USP e trabalhou em vários veículos de comunicação, tendo recebido prêmios na área de jornalismo e direitos humanos, como o Vladimir Herzog e o Prêmio Combate ao Trabalho Escravo. Empreendedor social Ashoka, é coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae).
Fonte: Blog do Sakamoto
http://colunistas.ig.com.br/sakamoto/2009/08/14/queimado-junto-com-a-cana-trabalhador-morreu-por-asfixia/
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