sábado, 29 de agosto de 2009

Presunção de inocência: não aplicação às normas sobre inelegibilidades

Discutiu-se intensamente ao longo das últimas eleições a possibilidade de vedar-se a candidatura de pessoas que ostentem graves indicativos em sua vida pregressa, ainda que não consistentes em condenações criminais de que não caiba recurso. Agora, diversas iniciativas buscam promover a discussão, no Congresso Nacional, de projetos de lei que disciplinem a matéria.

A constitucionalidade de uma lei que considere outros fatores de notável gravidade é alicerçada pelo que expressamente estatui o § 9° do art. 14 da Constituição Federal. Diz o dispositivo que "Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada a vida pregressa do candidato (...)".

Como se vê, é a própria Constituição da República quem expressamente determina ao legislador que estipule quais elementos da vida pregressa dos candidatos podem afastá-los dos pleitos. Infelizmente, passados quase quinze anos desde a edição do comando constitucional (o texto passou a ter a redação atual em 1994), o Congresso Nacional permaneceu omisso em seu dever de regular a matéria.

Diz-se que o princípio da presunção de inocência, também sediado na Constituição, estaria a impedir que condenações não transitadas em julgados viessem a infirmar a elegibilidade de alguém. Essa alegação é destituída de fundamentação jurídica, pois se volta apenas a impedir a aplicação imediata das sanções de natureza penal. E inelegibilidade não é pena, mas medida preventiva.

A sociedade tem o direito de definir em norma o perfil esperado dos seus candidatos. Diz, por exemplo, que os cônjuges e parentes de mandatários em algumas circunstâncias não podem disputar eleição. Isso se dá não porque sejam culpados de algo, mas porque se quer impedir que se valham dessa condição para obter vantagens eleitorais ilícitas. Ninguém propôs quanto a isso que aí residisse qualquer afronta ao princípio da não-culpabilidade.

Afirmar-se que o princípio da presunção de inocência se estende a todo o ordenamento jurídico constitui evidente impropriedade. Estender-se-ia ao Direito do Trabalho, para impedir a demissão de um empregado ao qual se atribui crime de furto até que transite em julgado a sua condenação criminal? Serviria ele para impedir que uma creche recuse emprego a alguém que já condenado por crimes sexuais contra crianças?

Diante de tais razões, os juristas abaixo-assinados afirmam que o princípio da presunção de inocência não se aplica ao tema das inelegibilidades.

Aristides Junqueira Augusto
Aras Celso Antônio Bandeira de Mello
Edson de Resende Castro Emmanuel Girão
Fábio Konder Comparato
Fátima Aparecida de Souza Borghi
Fernando Neves da Silva João Batista Herkenhoff
José Jairo Gomes
Hélio Bicudo
Marcelo Roseno
Mario Luiz Bonsaglia
Márlon Jacinto Reis
Milton Lamenha de Siqueira
Mozart Valladares
Osnir Belice Ricardo
Wagner de Souza Alcântara

Fonte: Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral
http://www.mcce.org.br/sites/default/files/cartajuristas.pdf

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Petição On-line, pelo afastamento do senador José Sarney

Foi publicado pela União Nacional dos Estudantes (UNE), no último dia 14 de julho na seção Cultura, da Revista Carta Capital, um Manifesto dos estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, através do Centro Acadêmico "XI de Agosto", no qual foi pedido o afastamento do senador José Sarney da presidencia daquela Casa.
O manifesto, feito por meio de uma petição, será encaminhado ao Congresso Nacional e seu objetivo consiste em contribuir junto à todos os setores da sociedade civil na mobilização e, sobretudo, na pratica da cidadania nas questões referentes à ética e a moralidade institucional, pela efetiva governabilidade.
Confira, abaixo, a íntegra da petição e participe!


Manifesto contra os Atos Secretos e a Corrupção no Senado


Estarrecidos, assistimos mais uma vez a depredação da instituição republicana estampar as capas dos jornais: trata-se, novamente, da expressão do patrimonialismo na política brasileira.


Não obstante, muito espanto causa a postura inerte da sociedade civil diante desses fatos. Por que não se escandaliza o cidadão ao ver a sua coisa – ora, sua coisa enquanto genuína expressão do espírito republicano – ser apossada por aqueles que os deviam representar, mas que acabam por sobrepor os interesses particulares e partidários, em detrimento aos institucionais? A reincidência de escândalos tem feito com que a arte de fazer política, algo visto com admiração desde a cultura grega, passe a ser encarado como algo digno de escárnio.


Escândalos como estes, tão recorrentes no cotidiano político brasileiro, nada mais são do que um reflexo de um vício estrutural que se arrasta por toda formação histórica deste País. As regras do nosso jogo democrático estão distorcidas de modo a favorecer o pequeno grupo que se apodera da máquina pública. Questões tão atuais como nepotismo, apropriação de recursos públicos, negociação de cargos são genuínas expressões de um passado coronelista, incapaz de dissociar as esferas pública e privada.


Ora, apenas será possível vislumbrar uma atuação política mais séria, comprometida e representativa por meio do aperfeiçoamento das regras que dirigem nosso sistema democrático. Postergar a discussão acerca da Reforma Política, esquivar-se de alterar os pontos estruturais por ela versados, é uma absoluta irresponsabilidade, e, por quaisquer motivos que sejam, somente contribui para o aprofundamento dessa crise a que assistimos.


Desta vez, é o Senado Federal que está assolado em denúncias de corrupção. Mau uso do recurso público; edição de atos não publicados que nomeiam e destituem funcionários, elevam e reduzem vencimentos; favorecimento de parentes; distorções em prestações de contas etc. Mais um episódio na política brasileira que demonstra a carência da ética e da seriedade na condução da gestão pública.


É tênue a distinção entre a mera expiação de culpa e a efetiva responsabilização dos culpados.


Naturalmente, a atual crise política que se instaurou nas instituições – em tese republicanas - não se personifica na figura do Presidente do Senado Federal, José Sarney. Entretanto, que não se use tal argumento para que o senador passe incólume frente aos atos que cometeu – não se trata de eleger um bode expiatório, mas sim procurar responsabilizar e sancionar aqueles que, de fato, tenha incorrido no ilícito. Diante de tantas questões a serem apuradas, muitas das quais resvalam na figura de José Sarney, torna-se insustentável que, sob a atual Presidência do Senado, as respectivas investigações se dêem de modo a garantir-lhes sua lisura.


O Centro Acadêmico “XI de Agosto”, entidade representativa dos estudantes da Faculdade de Direito da USP, a Escola do Largo São Francisco, pioneira no ensino jurídico deste País, em conjunto com os demais signatários deste manifesto, repudia que se gira o dinheiro público através de atos clandestinos; repudia que se use a prerrogativa de representante do povo para satisfação de interesses particulares, ou favorecendo terceiros que lhe sejam próximos; repudia que argumentos como governabilidade ou alianças partidárias eleitorais sejam levados exclusivamente em conta na tomada de decisões políticas – interesses meramente partidários não devem ser motivadores de posicionamentos políticos frente aos escândalos aos quais assistimos; e, por fim, repudia a imoralidade com a qual a política vem sendo levada no País.


Orientado pela idéia de um Estado Democrático de Direito que tenha como base um modelo representativo e republicano de governo, de que tanto se carece em tempos recentes neste País, o XI de Agosto não poderia permanecer inerte diante de todo esse desrespeito para com a coisa pública. Assim, exige que todos esses atos devem ser devida e seriamente apurados. Mas, para garantir a lisura desse processo, não há condições de que se mantenha a atual presidência do Senado Federal, no decorrer das investigações. Assim, clamamos pelo afastamento do Sr. José Sarney da Presidência do Senado Federal até que os fatos sejam apurados e se responsabilizem os culpados. É preciso que a sociedade civil se mobilize contra qualquer desvirtuamento das instituições democráticas. Exigimos, então, ética, moralidade e espírito republicanos, valores estes que nunca deveriam ter sido esquecidos no cenário político nacional.



Clique aqui para assinar a petição

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A única oposição


Baptistão

Tenho lido e ouvido muitos argumentos sobre a corrupção e desfaçatez da política brasileira que podem cair na mesma paralisia que condenam. É verdade que ver a absolvição de Sarney por seus colegas, soa como o último prego no caixão da moribunda vida pública brasileira, mas ignorar as perspectivas e nuances não ajuda nada. Ou sabemos o que não queremos ou nos restará assistir ao velório.

O argumento mais comum, baseado nas evidências mais plausíveis, diz que todos os políticos são corruptos e, portanto, não faz diferença quem esteja lá. Em contraposição, há a frase do grande Eça de Queirós que tem circulado pelos emails: “Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente, e pela mesma razão.” Se essa frequência será de quatro, cinco ou seis anos, e se com uma, nenhuma ou duas chances de reeleição, cada país fará seus testes. Só não tem sentido ficar mais que meia dúzia de anos sem abrir opção real de mudança – a qual certamente não é a do plebiscito periódico que certos autoritários latino-americanos oferecem em sistema quase monopartidário. A premissa da democracia não pode ir parar na mesma vala comum da rejeição.

Outro argumento vulgar é o de que “corrupção existe em todo lugar”, inclusive nos países mais ricos como EUA e Japão. Há um desdobramento um pouco mais sofisticado que chamo de argumento “italiano”: como na terra de Berlusconi, cujo problema não são os bacanais domésticos e sim a sacanagem que faz com as leis e os adversários, no Brasil poderíamos ter uma economia desenvolvida mesmo que a máquina pública seja instável, corroída, obscura. Bem, primeiro é preciso lembrar: o que não existe em outros lugares mais desenvolvidos é essa impunidade, essa tolerância à corrupção, essa cultura contaminada em todas as classes e regiões pela formação paternalista ou antiliberal. Aqui a corrupção não procura brechas: ela dá liga a todo o sistema. Segundo, apenas a ignorância ou a má-fé podem pôr de lado a história antiga e conflituosa da sociedade italiana – onde a cultura de mercado brotou, como mostraram autores como Tocqueville e Trevor-Roper – e seus avanços institucionais.

Há um terceiro argumento, também razoável sob vários ângulos, que deriva dos dois anteriores. Diz que a sociedade brasileira não pode apontar o dedo para seus representantes porque a maioria de sua população também é dada à contravenção, muitas vezes chamada de “jeitinho” (os diminutivos eram indispensáveis nos costumes da casa grande) – desde a propina na porta do estádio de futebol até a sonegação assumida de empresários e latifundiários, desde a “caixinha” para o guarda ou fiscal até a mancomunagem na hora da licitação. Acontece que, mais uma vez, apontar o dedo para seus representantes é uma prerrogativa da sociedade democrática, por mais desigual que seja essa sociedade e por mais imatura que seja sua democracia. Afinal, eles são pagos por nós. E há muitas, muitas pessoas e empresas que são mais corretas e comprometidas do que a politicalha.

Não estou falando apenas que as autoridades, sendo líderes (em tese), são obrigadas a dar o exemplo, como Creonte. Exigir moralidade não é udenismo ou pequeno-burguesismo, ou não deveria ser. É uma parte fundamental daquilo que define uma democracia republicana: a possibilidade de controlar o poder, de monitorá-lo e limitá-lo, por meio de imprensa livre, direitos de cidadania, associações e instituições independentes, e não só de escolhas eleitorais (tanto é que na maioria dos países o voto não é obrigatório). O estado precário dessa rede de vigilância se vê no debate nacional, dividido entre os ufanistas do “país do futuro” e os narcisistas do “isto não tem jeito”, muitas vezes encarnados na mesma pessoa; e sobretudo na incapacidade de pressionar a sério a classe política. Pesquisa do Datafolha, realizada mais de dois meses depois das primeiras denúncias, mostrou que 74% querem que Sarney deixe o cargo; alguns protestos surgiram em ruas e internet; a OAB entrou com representação. Mas Sarney continua. Faltou alguém de dentro gritar “Sai daí, Zé”?

Outro sinal dessa precariedade está na reação à mera menção da palavra “reforma”, especialmente a política. Sempre se invoca a ideia quando a crise está aguda, mas aí vem muita gente – inclusive os que se dizem social-democratas, conceito que implica necessariamente o de reforma – e alega que não dá para fazer tudo, que são muitas coisas e param o país, o Congresso, etc. Ok, então vamos nos concentrar em medidas pontuais que sejam, ora, pontos de virada: 1) Mudar o sistema de suplentes. Que um terço dos representantes não tenha tido votos para estar lá gera uma bagunça de dar inveja a qualquer italiano; 2) Examinar a fundo a proposta de Luiza Erundina de impedir que meios de comunicação – como os jornais regionais de famílias como Sarney, Magalhães, Collor e tantas mais – sejam dominados por políticos; 3) Criar súmula vinculante para impedir decisões de primeiras instâncias que ferem direitos constitucionais, movidas por interesses de compadrio.

Com isso, e fazendo valer as regras já existentes como a proibição ao nepotismo e a fidelidade partidária, se começaria a desmontar uma estrutura arcaica. Precisamos reduzir o poder dos Sarneys e não de pessoas como Gabeira, que cometeu erros e deve pagar por eles, mas que não é um Sarney. É claro que eu, por minhas inclinações pessoais, gostaria de ir mais longe e mudar o sistema partidário, quiçá reduzindo a três legendas (para não ficar no binarismo anglo-saxão); corrigir a proporção representativa (se o Senado serve para o equilíbrio federativo, por que a Câmara privilegia tanto os estados menos desenvolvidos?); adotar o voto facultativo, cancelando também a propaganda partidária gratuita fora de período eleitoral. Mas é preciso trabalhar no terreno do possível. Ou a lama nos enterra.

Texto de Daniel Pizza em O Estado de São Paulo de 24/08/09

Voto Nulo, Vote zero! Vote zero?

Que pode fazer "o povo" se os que se intitulam seus representantes usurpam a soberania popular em nome de interesses próprios?

NAS ELEIÇÕES de 2002 e 2006, votos brancos e nulos para senador somaram, em cada uma, quase 20% do total. Que aconteceria se mais da metade do eleitorado votasse em branco e/ou anulasse seus votos?
Muita gente que propõe anulação de votos pela maioria supõe que tal repúdio forçaria a anulação das eleições. Engano. Nem mesmo anulação voluntária de, digamos, 99% dos votos registrados determinaria nulidade duma eleição.
Presidente da República se elege, por exemplo, por maioria absoluta de votos válidos, qualificação que exclui do cômputo os brancos e nulos; é como se estes não existissem. Hipoteticamente, portanto, ainda que o resto do eleitorado anulasse seus votos, bastariam para eleger presidente os votos de familiares dum candidato (contanto que sua parentalha fosse mais numerosa que a do conjunto de seus possíveis concorrentes).
Tampouco procede o fantasioso consolo de saber quantos votos em "zero" exprimiriam rejeição explícita de todos os candidatos. Diz o artigo 164 do Código Eleitoral: "É vedada às Juntas Eleitorais a divulgação, por qualquer meio, de expressões, frases ou desenhos estranhos ao pleito, apostos ou contidos nas cédulas". Por isonomia, a proibição se estende ao registro digital de votos.
Já foi pior: até 1997, os votos brancos eram computados em favor dos mais votados, resultando em aberrantes distorções da preferência do eleitor.
O mal redigido artigo 224 do código tem alimentado a falsa esperança de o povo impugnar eleição mediante anulação da maioria dos votos: "Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias".
A tal "nulidade", porém, adviria apenas de irregularidades como violação de urnas ou do sigilo do voto, descumprimento de horário ou local da votação, impedimento de partidos supervisioná-la etc. Em suma, juízes podem anular eleição; eleitores, não.
E ainda que pudessem, para quê? A tal "nova eleição" não admitiria candidaturas diferentes das registradas no pleito anulado.
"Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos (...)", diz a Constituição. Mas que pode fazer "o povo" quando os que se intitulam seus representantes usurpam a soberania popular para representar, sim, apenas interesses próprios e os de grupos que os subornam pela via perversa do lobby? Por meios legais, nada.
Como você talvez já tenha lido neste espaço, não faz sentido aspirar à vitória se as regras do jogo forem dadas pelo adversário.
A perversão eleitoral vem de longe.
Em 1977, sondagens da opinião pública indicavam que o Movimento Democrático Brasileiro (MDB, da oposição) superaria a Aliança Renovadora Nacional (Arena, partido de sustentação política do regime militar) nas eleições parlamentares de 1978.
Por caber ao Congresso eleger o presidente da República por sufrágio indireto, maioria parlamentar oposicionista significaria derrota certa do general João Baptista Figueiredo, candidato oficial incumbido de cobrir a retirada "gradual e segura" do estamento militar que exercia o poder.
Alarmado, o presidente Ernesto Geisel baixou o "Pacote de Abril", conjunto de emendas constitucionais para estabelecer que nenhum Estado seria representado na Câmara dos Deputados por mais de 55 parlamentares nem por menos de seis. No Senado, o número de representantes de cada Estado passava de dois para três, com o terceiro (o "senador biônico") virtualmente nomeado pelo governo. Com tais medidas, estados do Norte e do Nordeste, menos populosos e mais dóceis, ganharam representação parlamentar desproporcional. Embora recebesse mais votos na eleição seguinte, o MDB não obteve maioria no Congresso, que então elegeu o general Figueiredo.
Mais tarde, abolida a figura do biônico, voltamos então a ter dois senadores? Não. (Conveio à classe política salvar algo do "entulho autoritário" para proveito próprio.) E o número de deputados de cada bancada corresponde às respectivas populações estaduais? Não. (Barões do Norte e Nordeste alugam seus feudos eleitorais a quem paga mais, que é sempre o governo federal.) Vote zero? Protesto fútil.
Mas, se exercido pela maioria, não privaria de legitimidade o triunfo dos usurpadores?

Texto de Aldo Pereira na Folha de São Paulo de 24/08/09

domingo, 23 de agosto de 2009

Casal roda 23 Estados para atender doentes

Médicos largaram tudo em São Paulo e compraram jipe para socorrer população nas cidades mais miseráveis do país

Danielle, 34, e Carlos, 39, encontraram jovens que nunca tinham visto um médico e homens que ignoravam cura de doenças

O médico e a médica buscaram no site das Nações Unidas a lista das cidades mais miseráveis do Brasil. Num mapa, marcaram as piores de cada Estado e traçaram a rota. Compraram um jipe, largaram tudo em São Paulo -trabalho, casa, família e amigos- e caíram na estrada.
Com um plano que muitos viram como louco e perigoso, o casal Danielle Bertolini, 34, e Carlos Maknavicius, 39, cruzou 23 Estados -mais de 100 mil km- cuidando, gratuitamente, de brasileiros doentes que vivem nos rincões do país. A expedição começou em agosto de 2007 e foi até abril deste ano.
"Estávamos estabilizados profissionalmente, mas sentíamos falta daquela medicina que havíamos idealizado quando decidimos ser médicos. Não fazíamos medicina humana, não cuidávamos de quem realmente precisava", explica Danielle.
Carlos e Danielle se conheceram em 2006, fazendo plantão num hospital público da capital paulista. No ano seguinte, venderam o apartamento em que viviam para comprar o jipe, criaram a ONG Médicos da Terra e obtiveram o patrocínio de duas empresas. Telefonaram para as prefeituras avisando a data em que chegariam.
Em cada localidade, agentes de saúde os levavam às famílias carentes da zona rural. Diversas vezes o jipe perdeu peças em estradas esburacadas e atolou em trilhas enlameadas. No sertão nordestino, usaram cavalos para chegar aos pacientes. Na Amazônia, lanchas.
O casal atendeu a jovens que nunca haviam visto um médico na vida, a homens que se consideravam inválidos por ignorar que suas doenças tinham cura, a mulheres que haviam acabado de perder seus bebês e a crianças com vermes e piolhos.
"O nosso susto foi ver que 95% das pessoas na zona rural têm esgoto a céu aberto, evacuam atrás de casa e tomam a mesma água onde lavam a roupa e que os animais bebem, não lavam as mãos nem os alimentos. Tivemos de ensinar coisas bem básicas", lembra Danielle.
As prefeituras normalmente forneciam remédios. Eles às vezes dormiam em hotéis sujos na beira da estrada, às vezes em casas de família. Entre uma cidade e outra, armavam uma barraca de camping.
Nos momentos em que não trabalhavam, Carlos e Danielle foram turistas. Conheceram as pinturas rupestres de Minas, a Caetés natal do presidente Lula, os Lençóis Maranhenses, os búfalos da ilha de Marajó e os botos cor-de-rosa de Manaus.
Por outro lado, enfrentaram prefeito que não os aceitou no município, rios sem pontes, um índio armado que quis atacá-los, uma tentativa de roubo do jipe e Conselhos Regionais de Medicina que não lhes deram a permissão temporária para exercer a medicina naquele Estado -nesses casos, para evitar processos, só deram palestras.
O pior revés foi uma doença rara que acometeu Carlos. Uma infecção alimentar levou seu organismo a desenvolver uma doença autoimune. Ele teve inflamações no corpo e quase ficou cego. A viagem sofreu duas interrupções para que ele fosse levado de avião a São Paulo. Isso os obrigou a tirar Roraima, Amapá e Acre do trajeto.
Carlos e Danielle agora vivem em Fernandópolis, a cidade paulista onde ela foi criada, fizeram um diário da viagem (medicosdaterra.com.br) e pretendem escrever um livro.
Danielle se lembra da maionese caseira do sanduíche que comeu em Varre-Sai (RJ). Carlos, dos cafezinhos feitos na hora pelas famílias que os recebiam. "Estamos coçando os pés para viajar de novo", diz ele.
"Vimos coisas tristes, conhecemos um Brasil que não aparece em livro nem em reportagem. E ao mesmo tempo vivemos coisas muito boas, conseguimos ajudar. Mas nossa missão ainda não está cumprida."

Texto de Ricardo Westin na Folha de São Paulo de 22/08/09

Se você estiver com dor de dente


Se você estiver com dor de dente, qual a chance de passar do primeiro parágrafo?
Pergunta um tanto estúpida, provavelmente, nenhuma

ESSA É UMA das notícias mais devastadoras para o Brasil.

Entre fevereiro e julho deste ano, dez equipes de pediatria e 15 de saúde bucal examinaram 119.850 alunos
de escolas públicas e descobriram que a maioria deles tinha pelo menos um problema capaz de dificultar o aprendizado.
O documento, inédito, é mais grave de que parece. Os exames ocorreram apenas em crianças da cidade de São Paulo. Imagine o resto do país. É, de longe, um dos maiores escândalos de saúde dos brasileiros.
Suponha que, ao começar a ler esta coluna, você seja acometido subitamente de uma dor de dente.
Qual a chance de passar do primeiro parágrafo? Pergunta um tanto estúpida- provavelmente, nenhuma chance. Das crianças que passaram por exame bucal, 35% apresentaram alto risco de cárie -lembremos, de novo, que estamos falando de São Paulo, onde a água é encanada e, em geral, tem flúor.
Entende-se, assim, estudo publicado pela Universidade de Santa Catarina, a partir de dados do Ministério da Saúde: cerca de 40% dos brasileiros entre 15 e 19 anos já perderam um dente por causa de uma cárie. Isso significa que, para chegar a esse ponto, tiveram de passar um bom tempo com dor de dente.
A boca nem de longe é o caso mais grave.

Os dados são baseados em relatório, ainda reservado, do programa "Aprendendo com a Saúde", realizado na cidade de São Paulo, onde médicos e dentistas passam pelas escolas e fazem os encaminhamentos para a rede de saúde.
Dos examinados, 7% foram encaminhados para psicólogos, por demonstrarem distúrbios de comportamento; 12%, a fonoaudiólogos; 15%, a oftalmologistas; 18%, a otorrinos; 13%, a endocrinologistas. É gente que não enxerga, fala, ouve ou respira direito -além de sofrer com sobrepeso ou desnutrição.
Criador de uma rede de dentistas que atende gratuitamente, Fábio Bibancos constata que, com a questão bucal, aparecem problemas da fala, audição, digestão e autoestima, que se traduzem em notas ruins, evasão, indisciplina, violência. Daí ele defender que pasta de dente e escova seja entregue em posto de saúde - assim como a camisinha.
Bibancos aprendeu como muitos de seus pacientes ficam curvados por causa da boca: "Eles sempre ficam olhando para baixo, não querem encarar as pessoas, com vergonha dos dentes, e a postura, com o tempo, vai mudando."


Já existem algumas iniciativas (os programas federais Saúde na Escola e Brasil Sorridente, por exemplo), mas são tímidas para o tamanho da tragédia. Mesmo quando há recursos, existem desperdícios. O governo federal enviou para as prefeituras kits para exames médicos, mas muitos prefeitos deixaram o material fechado.
O projeto "Aprendendo com a Saúde", de São Paulo, é considerado um modelo, por fazer o exame e, ato contínuo, o encaminhamento, o que exigiu a montagem de um cadastro especial -aliás, considero a iniciativa mais inovadora de toda a gestão Kassab. Mas, por enquanto, limitada aos alunos da pré-escola.


Há uma crescente convergência no país sobre o que fazer para melhorar a educação: formar os professores e melhorar seus salários, premiar o mérito, treinar os diretores em gestão, aproximar o currículo do cotidiano, envolver pais e comunidade, trabalhar com metas, aprimorar as avaliações, estimular a leitura o mais cedo possível, aumentar a jornada de trabalho, oferecer reforços permanentes etc.
Um sinal da nossa ignorância coletiva é a saúde mental e psicológica dos estudantes nem remotamente estar incluída no topo dessa agenda.
Seria muito mais eficiente (e justo) avaliar antes a saúde das crianças e dos adolescentes do que o que eles sabem de português e matemática.
Não é á toa que tantos professores ficam tão doentes.


Ou você acha que o leitor com dor de dente conseguiu chegar até o final desta coluna?

PS - A Secretaria da Saúde da cidade de São Paulo está preparando uma medida que vai dar polêmica.
Mas vale a pena prestar atenção.
Além de construir centros odontológicos (as prometidas AMAs Sorriso, cuja versão federal são os Centros de Especialidades Odontológicas), é preciso credenciar dentistas privados que prestariam serviços em seus consultórios.
Um mapeamento mostrou que, em todas as regiões da cidade, existem dentistas. Coloquei em meu site (www.dimenstein.com.br) mais detalhes sobre os exames médicos nas escolas de São Paulo.

gdimen@uol.com.br

Texto de Gilberto Dimenstein na Folha de São Paulo de 22/08/09

sábado, 22 de agosto de 2009

Todos "se lixam" para os políticos

Quer entender por que não acontece nada com congressistas envolvidos em escândalos, por mais que haja contundentes evidências de que violam o decoro dia sim e o outro também?
É só prestar atenção aos números da pesquisa Datafolha, em que 74% dizem querer o afastamento de Sarney. É ilusório.
Detalhemos o resultado: apenas 78% tomaram conhecimento das denúncias. Apenas?, perguntará você. Sim, apenas. Neste caso, não se trata de campanha da mídia impressa, ao contrário do que pretende o clã Sarney, que até buscou -e conseguiu- obter a censura de um jornal, o "Estadão", o que necessariamente se estendeu aos demais meios de comunicação.
As denúncias estão em toda a parte, inclusive nos meios realmente de massa (TV e rádios).
Que quase um quarto do eleitorado não tenha tomado conhecimento delas diz tudo a respeito da cidadania no Brasil. Mas há detalhes ainda mais deprimentes: dos 78% que, sim, tomaram conhecimento das denúncias, só 24% se dizem bem informados.
Tem-se, pois, que pouco menos de 19% do eleitorado (24% de 78%) está em condições de indignar-se, porque, para isso, é preciso estar antenado, certo?
Inverte-se aqui a frase daquele deputado que dizia "lixar-se para a opinião pública". A tal de opinião pública é que se lixa para as denúncias, possivelmente porque prevalece a ideia de que todo político é ladrão. Uma acusação a mais ou a menos contra um político a mais ou a menos não faz, portanto, a mais remota diferença.
Ah, os que se dizem petistas desmentem o argumento calhorda de que há uma perseguição a Sarney para atingir Lula. São eles, com 73%, os vice-campeões em cravar "sim, Sarney está envolvido", acima da média (66%) e atrás apenas dos tucanos. Aceitam, pois, que a "perseguição" é dos fatos.

Texto de Clóvis Rossi na Folha de São Paulo de 21/08/09



quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Ação por um mundo melhor

É a consciência, seguida da ação organizada, a única via para se conquistar a paz e o respeito aos nossos direitos e a democracia que tanto queremos.

De Josefina Bacariça, Diretora-Presidente da Comissão Justiça e Paz de São Paulo

O momento é grande efervescência. Nele, revelam-se avanços na consciência e na ação. Clamores já não podem ser compreendidos como simples lamúrias. Lágrimas, embora dolorosas, não podem ser sentidas com passividade e conformidade.

A indignação, fartamente adubada pelas derrotas e frustrações, é passo decisivo que nos leva a buscar caminhos solidários e à organização para a participação, sem o que não pavimentaremos a estrada da sociedade democrática que sonhamos.

A educação de todos, compreendida como processo de aprendizagem, é fundamental para conhecermos as leis que nos protegem, a demonstrar nossos direitos e deveres. Todas as pessoas, sem exceção, ao conhecerem seus direitos e deveres verão nelas crescer a maturidade para a garantia de uma vida digna e respeitada.

É preciso defender o direito a viver com segurança, com saúde, com educação de qualidade, com habitação e com trabalho digno. Todos os crimes de sonegação de impostos, contrabando, tráfico de drogas, lucro abusivo, corrupção e outros são crimes contra os nossos direitos e para que sejam punidos com o rigor da lei, mas uma vez é preciso que os cidadãos estejam dispostos, por meio do conhecimento e da ação organizada, a exigir que o Direito seja respeitado.

Portanto, é a consciência, seguida da ação organizada, a única via para se conquistar a paz e o respeito aos nossos direitos e a democracia que tanto queremos.

Cada cidadão, por mais simples que seja, tem condições para conhecer seus direitos e deveres. E, ao conhecê-los dará o segundo passo necessário, que é o de partir para a ação organizada.

Muitos já estiveram, até a morte, engajados nesta luta e muitos, como nós, continuamos nela. É preciso fortalecer esse movimento que une todos e que sonham e sabem ser possível um mundo de abundância, de alegria, de saúde e de esperança. A nação será o que o povo desejar.

Muito está por ser feito e nada é perfeito. Não devemos ter a ilusão de encontrar tudo pronto e bem feito à nossa espera. Vamos encontrar tantos erros e injustiças, que podemos até fraquejar em um certo momento, mas não podemos e nem devemos desistir. Alguém muito inspirado já que disse que o caminho se faz ao caminhar.

Nossa história é resultado de persistência, de vontade guiada pelo sonho de felicidade que todos temos. Devemos construir no dia-a-dia a sociedade que sonhamos, porque, em última instância, somos os únicos instrumentos capazes de influenciar, de alguma forma, os destinos próprios e dos que nos cercam, de nossa família, de nossa cidade, de nosso Estado, de nossa Nação e dos da própria humanidade.

A nossa bandeira deve ser um sonho de esperança de um outro Brasil possível e diferente, não mais pela opulência de uns poucos e a miséria gritante das maiorias. Um Brasil de inclusão, com participação popular, de modo a realizar a utopia de ver todos dos brasileiros atendidos em suas necessidades básicas, como: alimentação, assistência de saúde, educação, trabalho com salário digno e aposentadoria que permita enfrentar as limitações da idade e para que as pessoas possam se despedir desse mundo agradecidas e não o maldizendo.

Segundo Leonardo Boff, “O povo Brasileiro tem um pacto com a esperança, com grandes sonhos e com a certeza de que se sente sempre acompanhado pelos santos e espíritos fortes a ponto de suspeitar que Deus é brasileiro. Isto é o que deve ser. E o que deve ser tem força invencível”.

Fonte Jornal da Comissão Justiça e Paz SP - nº 2

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Histórico dos direitos humanos e a síndrome de Poliana

Não sei se hoje ainda ocorre, mas, há algumas décadas, desfrutava de certa popularidade, inclusive por sua versão cinematográfica, o romance infanto-juvenil que narra a história de Poliana. Essa personagem era uma jovem que, malgrado uma sucessão de infortúnios na vida, amiúde se dedicava a uma brincadeira que chamava de “jogo do contente”, pela qual tentava encontrar em tudo o seu “lado bom” e, assim, “tornava” o mundo melhor, descobrindo sempre razões para se alegrar até em situações francamente insatisfatórias.
Essa novela, de otimismo ingênuo e risonho, embutia, na verdade, uma mensagem conformista. Ela vem-me à memória porque, ao fazermos um balanço que se pretenda realista da situação atual dos direitos humanos, devemos, logo de partida, nos desvencilhar da “síndrome de Poliana”. Nossa postura ou será exigente e crítica, ou será inútil. O terreno do qual devemos partir é a própria realidade. Olhando-a, temos a obrigação de nos posicionar face ao que de fato vermos. Se queremos transformar a realidade, será pela arma da crítica, nunca pela “paciência” complacente, nem pelo “contentamento” com avanços já obtidos.
Nesse sentido, cabe, antes de tudo, identificar qual é a tendência principal de nosso tempo em relação à temática dos direitos humanos, quero dizer, em relação à situação em que objetivamente se encontram esses direitos. Não podemos fugir da constatação de que vivemos numa quadra – no Brasil e no planeta – em que os direitos humanos, em quase todas as suas dimensões, estão sob fogo. Houve um período, em meados do século XX, em que se dava o contrário. Vivíamos, então, uma conjuntura que favorecia a luta pelos direitos humanos, e uso com ênfase a palavra luta porque, como sabemos, a conquista desses direitos foi e segue sendo fruto da luta social, uma luta que implica em contrariar interesses freqüentemente poderosos. Mas, em meados do século XX, tínhamos uma situação internacional em que tais lutas eram travadas em terreno propício. Que situação era aquela?
O breve Estado de Bem-Estar
No pós-Segunda Guerra Mundial, havia se configurado uma correlação mundial entre as forças políticas caracterizada por fatores de ordem muito progressista. Primeiro, a consolidação da União Soviética como potência econômica e militar, após derrotar o nazismo. Basta imaginarmos o cenário de tragédia e pesadelo se houvesse ocorrido o contrário, se o nazismo houvesse derrotado a União Soviética e vencido a Segunda Guerra Mundial. Segundo, em conseqüência dessa vitória, se conformara na Europa Central e Oriental o chamado “campo” socialista. Logo esse “campo” seria fortalecido pelas vitórias das revoluções chinesa (1949) e cubana (1959), além da constituição de um amplo leque de nações “não-alinhadas”. Malgrado indícios já então detectáveis de degeneração institucional nos países do “socialismo real”, que só se agravariam nas décadas subseqüentes, e malgrado divergências políticas entre eles mesmos, o fato era que perto de um terço da humanidade trilhava um caminho de desenvolvimento econômico-social que, de alguma maneira, contrariava a lógica ocidental de livre-mercado. Terceiro, alastravam-se como incêndio, pela África e Ásia, as insurreições nacionais contra o colonialismo europeu. Em quarto lugar, proliferavam ao redor do planeta partidos centrados, em graus variados, na defesa de interesses dos trabalhadores: partidos comunistas, socialistas, trabalhistas, social-democratas ou nacionalistas de esquerda. Em quinto lugar, correlatamente, também o movimento operário em escala mundial se organizava em sindicatos, seja nos próprios EUA, em toda a Europa, no Japão, até na América Latina.
Esse conjunto de fatores de pressão favorecia a extensão de direitos econômicos, sociais e culturais aos trabalhadores, ao menos nos países centrais (o Estado de Bem-Estar), a auto-determinação dos povos e a própria defesa dos direitos individuais, face a consciência que se criava mundialmente de repúdio às barbaridades cometidas pelo nazi-fascismo durante a guerra. E digo barbaridades do nazi-fascismo porque os vencedores da segunda guerra mundial só trataram das violações cometidas pelos perdedores. Os crimes contra a humanidade praticados pelos vencedores não foram a julgamento: o bombardeio-massacre de Dresden, até militarmente sem sentido, ficou impune, assim como ficaram impunes os dois maiores genocídios instantâneos de toda a história da humanidade, perpetrados em agosto de 1945 em Hiroshima e Nagasaki, contra um Japão já derrotado. Os vencedores da guerra julgaram apenas os crimes contra os direitos humanos cometidos pelos perdedores – mas mesmo isso foi um avanço.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, editada pela ONU em dezembro de 1948, foi resultado daquela correlação mundial de forças. Sem a pressão dos países do bloco soviético e sem a ascensão operária que se alastrava pelo mundo, seria inimaginável a inclusão dos direitos econômicos, sociais e culturais naquele documento, assim como seria inimaginável a inclusão do direito de auto-determinação dos povos sem as lutas de libertação nacional então em curso.
Crise dos direitos sociais
Mas aquela correlação mundial de forças se inverteu no final do século XX, a começar pelo impacto do formidável incremento da produtividade do trabalho, decorrente da fortíssima injeção de fatores de ciência e tecnologia na indústria, na agricultura e no setor de serviços. Entre as décadas de 1970 e 1980, a produtividade do trabalho aumentou muito rapidamente, tornando agudas tanto a concorrência econômica mundial, como a expansão do desemprego no planeta. Surgia, já na década de 1980, uma categoria historicamente nova – a do desemprego permanente, isto é, estrutural ao capitalismo.
Na antiga categoria do “exército industrial de reserva”, estudada por Karl Marx, quando a economia capitalista entrava em processo de expansão, o desemprego recuava (embora não se extinguisse), e quando a economia mergulhava em crise, o desemprego se alastrava. Essa “reserva” humana de desempregados, que cresce ou diminui ao sabor das crises cíclicas do capitalismo, desempenhava/desempenha, objetivamente, a função social de rebaixar o preço da força de trabalho. Durante as fases de expansão econômica, evita que os salários dos trabalhadores se elevem além de certo patamar e, inversamente, rebaixa de modo drástico esses salários nos momentos de recessão/depressão. Num e noutros casos, a existência de uma massa desempregada preserva a taxa de lucros dos empresários.
A partir da década de 1980, a esse emprego-desemprego cíclico, que não deixa de existir e de operar, sobrepõe-se o desemprego estrutural: o capitalismo, valendo-se da tecnologia mais sofisticada e recente, passa a descartar de modo permanente uma quantidade imensa de trabalhadores ao redor do planeta, eliminando atividades e profissões, substituídas para sempre mediante a informatização/automação/robotização de ramos econômicos inteiros. Os chamados programas de “re-qualificação” de mão-de-obra só tem sido capazes de reintegrar à economia uma parcela insignificante desses trabalhadores descartados, pois os novos meios de produção dinamizados pela ciência e pela tecnologia conseguem atingir as metas produtivas anteriores, e até superá-las, empregando quantidade crescentemente menor de trabalhadores.
A proposta muito óbvia e racional de redução progressiva e universal da jornada de trabalho, na mesma proporção das elevações da produtividade e com manutenção dos níveis salariais, certamente estancaria o crescimento do desemprego. Mas essa solução é inaplicável num mercado tangido por concorrência feroz e, ademais, contraria a própria lógica da busca do lucro, único motor do capitalismo. Só houve reduções duradouras da jornada, com manutenção dos salários, em alguns momentos do século XX marcados por forte mobilização operária. Numa conjuntura de fraqueza relativa dos trabalhadores, como esta em que, salvo exceções localizadas e fugazes, o planeta ingressou desde o final da década de 1970, a redução de jornada só ocorre no eventual interesse patronal de reduzir a produção em momentos de crise – e, então, é invariavelmente acompanhada da redução dos salários, à qual os trabalhadores acabam se submetendo para postergar o pior, o desemprego.
Noutras palavras: se, nos momentos de euforia econômica, os super-lucros são apropriados privadamente pelos capitalistas, nos momentos de crise os prejuízos são logo “socializados”, seja pela expansão do desemprego imediato e bruto, seja pelo socorro financeiro que os Estados, sacando recursos públicos, colocam sem pestanejar à disposição dos empresários “em dificuldades”.
Assim, nesta nova fase em que ingressou, sem retorno possível, o capitalismo se converteu em máquina feroz de expulsão massiva de seres humanos do mercado de trabalho. Entenda-se: expulsão da sociedade e da própria vida autônoma, pois estar fora do mercado equivale a não existir, a perder toda autonomia pessoal, a ficar na dependência da caridade privada ou do assistencialismo público, se e quando caridade e/ou assistencialismo comparecerem.
Essa tendência, desde sempre intrínseca ao capitalismo devido à apropriação privada da ciência e da tecnologia, ganhou fôlego sem mais qualquer limitação política a partir do desmoronamento da União Soviética e dos países do chamado “campo” socialista da Europa Central e Oriental. O fim da bipolaridade política, econômica e militar permitiu que aquela tendência da economia capitalista, que vinha se firmando desde as décadas de 1970 e 1980, triunfasse agressivamente a partir da década de 1990. Desde então, por assim dizer, as classes dominantes do planeta vêm respirando aliviadas, após 80 anos de concessões parciais aos trabalhadores, período durante o qual haviam sido forçadas a entregar muitos anéis para não perder os dedos, isto é, para conter os riscos de revolução social. O caminho para manter-se à tona na intensificada competição mundial inter-capitalista passa agora por “cortar custos”, isto é, cortar despesas com direitos sociais, que entram em recuo por toda parte. Eis o brado empresarial de vitória: “Chegou a hora de recuperarmos o que havíamos cedido!”.
Portanto, sem mais qualquer ilusão quanto à efetividade de um direito ao trabalho, e com os demais direitos trabalhistas em recuo internacional, o Direito do Trabalho tornou-se uma cidadela sob cerco. Para o capital manter-se à tona na concorrência, vale até a restauração de relações de trabalho análogas ao trabalho escravo.
Retorno do trabalho escravo
Aliás, esse tema – o contemporâneo retorno do trabalho escravo – dá bem a medida do grau de hipocrisia e degradação humana inerente às relações sociais capitalistas. A partir do século XVI, para suprir a carência de força de trabalho no recém-conquistado Novo Mundo, o então nascente capitalismo europeu não hesitou em reduzir à escravidão os índios, num primeiro momento, e logo depois também os africanos. Todos os discursos “legitimadores” daquela prática infamante foram logo providenciados. No pensamento religioso, cogitou-se muito depressa que os indígenas e os africanos não seriam propriamente “humanos”, que seriam desprovidos de alma, ao menos de alma “igual” à dos europeus – portanto, sua redução à condição de “bens de comércio”, submetidos a trabalho forçado e a castigos corporais, não configuraria “pecado”. Mesmo após a Igreja Católica “reconhecer” a condição humana aos indígenas das Américas, sua captura e redução ao cativeiro não foi jamais detida, pois essa prática já havia se incorporado à conduta corrente dos colonizadores.
Quanto aos africanos, a história é muito conhecida: durante quase quatrocentos anos, esses “animais vocais”, não-humanos e sem alma divina, foram vítimas de captura e seqüestro na África, transportados pelo oceano sob ferros, amontoados nos porões imundos de navios negreiros para, ao final, serem vendidos como “mercadorias semoventes” nos portos das Américas. Até o século XIX, escravagistas cristãos das Américas deslocavam citações bíblicas em seu favor, como as de Gênesis 9 (versículos 25 a 27)3 e de São Paulo, na sua Epístola aos Romanos.
Esse comércio de carne humana, gerador da diáspora negra que se abateu sobre mais de 12 milhões de vítimas, foi um dos mais importantes fatores a propiciar a chamada “acumulação primitiva” de capital que, no final do século XVIII, conduziria ao florescimento irresistível da Revolução Industrial e do capitalismo industrial moderno.
Ao longo do século XIX, as burguesias das nações industrializadas se deram conta de que o trabalho assalariado terminava saindo “mais barato” do que a manutenção de escravos até o final de suas vidas e que, ademais, a generalização do trabalho assalariado convinha à expansão de mercados consumidores nas colônias e nos países do Novo Mundo. Só então, as canhoneiras de Sua Majestade britânica foram colocadas a serviço de dar por encerrado o “ignominioso” (como passou a ser chamado) comércio de seres humanos. O Brasil deteve a posição de último país do planeta a abolir legalmente a escravatura, o que certamente nos informa muito a respeito da mentalidade de nossas classes dominantes.
Mas a questão escrava está longe de poder ser “dada por encerrada” neste início século XXI. Nenhuma ilusão a esse respeito. Superado o escravismo colonial ao final do século XIX, o trabalho escravo ressurgiu, sob formas novas e igualmente infames, ao final do século XX – justamente no momento em que as lutas operárias perdiam vigor ao redor do planeta. Mais uma vez, o capitalismo triunfante demonstra que consegue, sem qualquer aguilhão moral, combinar relações de trabalho “modernas” (assalariadas) com relações “atrasadas” (servis ou análogas à da escravidão). Trata-se do regurgitamento contemporâneo e feroz da velha lei capitalista do desenvolvimento desigual e combinado.
Seja mediante a retomada do seqüestro antigo e direto (África), seja pelo confinamento de trabalhadores migrantes reduzidos ao trabalho forçado por “dívidas” impagáveis (Amazônia, Ásia), seja pela submissão de crianças e mulheres extremamente pobres (zonas rurais da América Latina e da Ásia), seja, ainda, pela submissão “voluntária” de estrangeiros em situação irregular (grandes cidades da América Latina, da Ásia, até da Europa ocidental), relações de trabalho abertamente escravas ou a elas análogas voltam a ser adotadas em várias regiões, não importa quantos solenes tratados internacionais hajam proibido o trabalho não-livre. Nas franjas tecnológicas do capitalismo, onde quer que o trabalho braçal não-qualificado ainda possa mostrar-se “atraente” a empresários, diversas modalidades “invisíveis” de escravidão retomam fôlego, nutrindo-se do desemprego massivo, da desvalorização da força de trabalho e da omissão/conivência hipócrita das elites economicamente dominantes.
Esse movimento socialmente perverso, claro, só se agrava nos momentos de crise econômica, que não o inventa, mas o expande. A crise dos direitos econômicos, sociais e culturais, que se expressa em várias modalidades, já estava perfeitamente identificada ao término do século XX. E, por efeito reflexo, os direitos individuais-civis também acabavam sendo atingidos, pois não constitui novidade que aos desempregados, ou aos trabalhadores com salários insuficientes para atender as necessidades fundamentais, também os direitos civis se reduzem a frase de efeito – para não falar dos milhões de trabalhadores e trabalhadoras submetidos àquelas novas formas de escravidão. Mas, quanto a isto – o ataque aos direitos individuais – a entrada do século XXI nos reservaria surpresas sombrias.
Crise dos direitos individuais
Sob o mote/pretexto da defesa nacional a qualquer custo, as potências imperiais passaram a editar leis e a adotar práticas de violação a antigos direitos individuais que se imaginavam já “consagrados”. Qual é o significado do campo de concentração de Guantánamo, dos sinistros calabouços de Abu Ghraib e de outros centros de tortura no Iraque e no Afeganistão, dos centros secretos de “interrogatório” e de eliminação de prisioneiros seqüestrados, instalados pelos EUA em “território estrangeiro” sob complacência dos governos do Egito, do Paquistão, até de países europeus? E os inacessíveis navios-prisões que os EUA mantêm fundeados em águas internacionais? As ONGs de sempre cansaram-se de denunciar, documentar e apresentar testemunhas dessas contemporâneas fábricas de horrores. A lei norte-americana denominada Patriot Act, inacreditável recuo histórico em relação à garantia dos direitos individuais, teve reproduções aproximadas em leis adotadas na Inglaterra, na Itália, na França e na Alemanha.
Mas a ONU e outras instituições planetárias foram, diga-se com todas as letras, complacentes enquanto tudo acontecia. Salvo lamúrias inconvincentes, nada fizeram para impedir que se restaurassem práticas francamente nazistas. Pesou, isto sim, um silêncio hipócrita e conivente face ao seqüestro de suspeitos, à tortura sistemática, humilhação, privação do direito de defesa e assassinato de seres humanos de pele mais escura e idioma não-europeu.
Dando, talvez, por quase completado o “serviço sujo”, as potências imperiais já cogitam da possível “desativação” desses centros. Mas o que conta é isto: mantiveram/mantêm/manterão tais locais de barbarização de seres humanos durante o tempo que considerarem “necessário”. O recado que nos enviam é este: os direitos à vida, à integridade física e psicológica, o direito a receber uma acusação formal num processo legal que assegure o direito de defesa e o direito de ser assistido a todo tempo por um advogado, a garantia de não ser preso sem os procedimentos legais, e de não permanecer preso além da pena, não são direitos universais, não importando quantos tratados internacionais de direitos humanos tenham sido escritos, assinados e festejados com brindes de champanhe em taças de cristal.
Eis, portanto, o cenário em que nos movemos neste momento: à crise dos direitos econômicos, sociais e culturais aberta ao final do século XX, sobrepôs-se, neste início do século XXI, uma crise dos direitos individuais. O único direito individual que segue gozando de todas as garantias é o direito de propriedade. Falamos, é claro, de realidade, não de declarações solenes, nem compêndios de leis.
O direito e os direitos humanos
E aí chegamos ao fulcro da questão que talvez melhor expresse a esquizofrenia jurídica do nosso tempo: a função efetivamente desempenhada pelo direito positivo. Quando se trata de manter o status econômico-social, a efetividade do direito é imediata e ágil, essa função conservadora entra em cena e opera de modo a não deixar dúvida – até mesmo, se necessário, contra o direito anterior. Ora, dirão vocês, mas o direito positivo também está, em quase todos os países, perpassado por normas avançadas, progressistas, de defesa dos direitos humanos. Eu respondo: é esta a esquizofrenia do direito. Por um lado, nunca tivemos, tanto no direito internacional quanto no direito interno, um conjunto tão amplo e minucioso de normas de defesa de direitos humanos. Mas, a vida nos ensina, essas normas não vão à prática, ou o vão condicionalmente – se, quando e enquanto convém aos interesses dos que realmente detêm os poderes no mundo.
Esse traço ilusório do direito pode ser ilustrado com a seguinte fábula: se um dia um disco voador desviar-se de sua trajetória e tiver de fazer um pouso forçado na Terra para reparos, e estacionar nalguma faculdade de direito ou biblioteca jurídica, enquanto os marcianos-mecânicos trabalharem no motor, os demais tripulantes, muito curiosos, poderiam passar a noite se dedicando à leitura de documentos jurídicos incríveis, inclusive de uma certa Constituição Brasileira de 1988. Suponho que se deterão especialmente nos longos e belos artigos que arrolam direitos e garantias. Ao retornar a Marte, os marcianinhos relatarão maravilhados aos seus superiores hierárquicos que o paraíso realmente existe, foi encontrado – e fica no Brasil!
Ou seja, o direito, a par de sua função precipuamente conservadora, cumpre também uma função ideológica de mistificação da realidade, de retrato falso, ainda mais numa conjuntura como a atual, em que o capital expurga do seu discurso o caráter universal dos direitos humanos, ou o preserva apenas como peça decorativa da diplomacia internacional – ou, agora sim, para a defesa incondicional, e mesmo anti-social, do sacrossanto direito de propriedade. De todos os direitos humanos, esse é o único, repito, que atualmente não corre riscos, é o único que segue completamente bem defendido, e defendido inclusive contra a sociedade.
Não devemos nutrir ilusões. Ao lado da Constituição democrática e cidadã de 1988, segue em vigor, funcionando como um lembrete a todos nós, a própria lei de segurança nacional dos tempos da ditadura militar. Não se lembraram de revogar esse, como se diz, “entulho autoritário”. Assim como ainda não houve vontade política para tornar públicos os arquivos secretos da ditadura, ou para responsabilizar os assassinos e torturadores daquele tempo – o que funciona mais ou menos como uma carta branca para os assassinos e torturadores dos tempos atuais.
Aliás, um recente estudo desenvolvido pela cientista política norte-americana Kathryn Sikkink, professora da Universidade de Minessota, indicou que, nos países em que os crimes das ditaduras – tortura, homicídio e “desaparecimento” – foram investigados e punidos, o índice atual de violência policial é sensivelmente inferior ao dos países que não investigaram nem puniram aqueles criminosos.
Recentemente, em 2008, o relator especial da ONU sobre execuções sumárias visitou nosso país e, em seu relatório, afirmou enfaticamente: no Brasil, a polícia tem mãos livres para matar.
A esse respeito, eu vivi uma experiência especialmente chocante no ano 2000, quando o relator especial da ONU para tortura também visitou o nosso país. Às vésperas de sua visita, foram organizadas, nas cidades pelas quais passaria, comissões de entidades da sociedade civil com o encargo de sugerir ao relator instituições locais a serem inspecionadas. Eu integrei a comissão de São Paulo. A visita, como todas as inspeções da ONU, teve caráter oficial, fora autorizada pelo governo federal e anunciada com semanas de antecedência. Era público que, em tais dias, o relator estaria em tais cidades. Portanto, houve tempo suficiente para que as autoridades policiais e carcerárias pudessem, digamos, “preparar” as repartições que eram alvos mais freqüentes de denúncias. Achávamos, por isso, que a eficácia das visitas poderia estar em grande medida comprometida.
A comissão paulista acompanhou o relator da ONU em inspeções em seis ou oito instituições públicas paulistas. E, para nossa surpresa, para nosso estarrecimento, mesmo em se tratando de uma visita previamente anunciada e divulgada pelos meios de comunicação, o relator constatou atrocidades chocantes em quase todas as instituições que visitou – desde o açoitamento de crianças com chicotes de arame numa unidade da FEBEM (atual Fundação CASA), até várias modalidades de tortura como “método” de interrogatório ou medida punitiva em unidades policiais e prisionais. O impensável aconteceu até na visita à Vara da Infância e Juventude da cidade de São Paulo. O relator da ONU observou que dez ou quinze adolescentes, com os uniformes de presidiários-mirins da FEBEM, sob vigilância de funcionários daquela instituição, haviam sido trazidos para aguardar o momento de serem ouvidos pelo juiz em audiências de seus processos de internamento. Então (e sem que isto houvesse sido programado), o relator subitamente dirigiu-se àqueles adolescentes e, por meio de um tradutor, identificou-se e começou a indagá-los sobre eventuais maus-tratos. Tudo foi muito rápido, não houve tempo para a intervenção dos funcionários. Em poucos segundos, deu-se a seguinte cena: vários garotos levantaram as camisas e exibiram, nas costas e no peito, marcas de queimadura por cigarro e outros sinais de castigos físicos.
A violação dos direitos humanos é tão escancarada em nosso país, tão generalizada, que mesmo durante uma visita publicamente anunciada não se torna possível ocultar tudo – nem mesmo no interior de um órgão do Poder Judiciário! Tudo, em todos os lugares visitados, foi gravado por um cinegrafista da BBC que acompanhava o relator. Esse documentário foi depois exibido na Europa e nos EUA, e o relatório oficial encaminhado à ONU ainda envergonha nosso país – mesmo porque, passados quase dez anos, persiste esse quadro de violação sistemática de direitos dos pobres, dos sem riqueza e sem poder, dos “invisíveis”, que não existem para a grande mídia senão quando são abatidos.
Tanto no plano dos direitos econômicos, sociais e culturais, como no plano dos direitos individuais, persistem violações, e não se trata de situações excepcionais. Temos de colocar, sem dúvida nenhuma, a mão na sujeira. Se não abrirmos os infames arquivos da ditadura militar, se é que resta alguma coisa de relevante que ainda não tenha sido “expurgada”, se é que não foi tudo convenientemente queimado, enquanto não abrirmos o que resta desses arquivos secretos, enquanto o Estado brasileiro for cúmplice desse ocultamento da verdade, não teremos grande esperança de disciplinar a polícia atual. Enquanto os assassinos e torturadores da ditadura militar seguirem impunes, isto certamente seguirá funcionando como passaporte de impunidade para a violência atual da nossa polícia. No momento em que os torturadores, estupradores e assassinos da ditadura militar, com ou sem farda, tiverem que responder por seus crimes, os homicidas e torturadores de hoje pensarão duas vezes antes de torturar e matar.
Há questões sobre as quais não é possível conciliar – esta é uma delas. Ou seguimos os exemplos dos países vizinhos do Cone Sul, considerando juridicamente os assassinatos e torturas da ditadura como crimes contra a humanidade – portanto, imprescritíveis e inanistiáveis – ou fechemos os olhos, na hipócrita postura de “esquecimento” e, então, não nos queixemos mais da polícia violenta e violadora que temos em quase todo o país. Polícia essa, cujas duas principais ferramentas de investigação policial são o pau de arara e o choque elétrico. A diferença é que, ontem, as vítimas eram militantes revolucionários, combatentes da democracia. Hoje são os pobres em geral, os negros, índios, são os que lutam para trabalhar na terra ou para ter um teto que os abrigue nas cidades.
Uma convergência inevitável
Eu dizia no começo que, em matéria de direitos humanos, ou somos críticos ou somos inúteis. Isso não significa que devamos nos prostrar em pessimismo paralisante, nem que devamos desprezar instrumentos legais. Devemos sim, sacar tais instrumentos, inclusive como dedos acusatórios, denunciadores, exigindo medidas concretas e urgentes, sem poupar governantes, sejam quais forem, sejam de quais partidos forem, que se comportarem de forma omissa e leniente, seja por conivência, seja por covardia política.
E esse empenho deve também considerar a necessidade de superação de uma distorção perigosa: a fragmentação dos movimentos de direitos humanos. É certo que ingressamos num período de especificação desses direitos, sendo mesmo esperável que os diversos grupos vulneráveis e oprimidos – mulheres, crianças e adolescentes, idosos, grupos étnicos, portadores de necessidades especiais etc. – especializem sua atividade e priorizem suas temáticas próprias. Mas isso não pode conduzir à perda da dimensão global, ao esquecimento da interligação e interdependência de todos os direitos humanos. Numa palavra, essa fragmentação das lutas precisa ser revertida porque conduz à despolitização – exatamente o que esperam os violadores dos direitos humanos. Ao se perder a visão de conjunto, desviando esforços para um rumo fragmentário de ações paralelas e isoladas entre si, não se dá conta de que há certos movimentos objetivos da realidade que tudo condicionam, que limitam o alcance de cada uma das lutas parciais ou até tornam inalcançáveis certos objetivos específicos.
Refiro-me, antes de tudo, a esse poderoso fator objetivo que é o modo como planetariamente se processa o movimento do capital, num sentido anti-humano, excludente de bilhões de pessoas, expulsando do mercado, da sociedade e da vida parcelas imensas e crescentes da humanidade, ou “incorporando” outras como... escravas. Ou detemos este movimento que a tudo engolfa, ou nossas lutas parciais, isoladas e fragmentadas se revelarão impotentes, reduzindo-se a “vitórias” minúsculas e localizadas, vitórias de Pirro, porque logo anuladas pelo movimento excludente e destrutivo global. Se não tivermos a lucidez de dar esse salto de qualidade na compreensão do momento que vivemos, acumularemos revezes demasiado graves, porque esse movimento do capital chegou a um ponto em que, não só precisa destruir um contingente incalculável da humanidade para continuar se auto-valorizando, como também não consegue deter sua marcha insensata rumo à destruição física do planeta.
Hoje, falar em defesa dos direitos humanos é, antes de tudo, falar em salvar a humanidade e o planeta em que ela vive – objetivos que demandam, ambos, remover aquela macro-ameaça global da humanidade e da natureza. A menos que optemos por nos comportar como Poliana e passemos a acreditar na ilusão rósea, tão tola quanto perigosa, de que é possível “humanizar” o capitalismo e reconciliá-lo com a natureza.
Institutos jurídicos, tais como o que atribui uma “função social” à propriedade, certamente revestem de uma película adocicada a pílula que nos é dada para engolir, mas não são antídotos para o veneno que ela contém. O capitalismo não se “humanizará”, não se tornará receptivo a chamamentos da razão, não deterá de motu proprio sua voracidade destrutiva, porque isso mexeria com os lucros, assim como os detentores do capital não passarão, milagrosamente, a conduzir-se segundo preceitos tais como “amai-vos uns aos outros”. A burguesia ri secretamente desse mandamento, só nós é que almejamos um mundo em que o amor universal seja possível, mas esse mundo só existirá se o capitalismo deixar de existir.
A burguesia, embriagada pela obsessiva extração de lucros, comporta-se como o dependente químico terminal: não pode aceitar um mundo fundado na igualdade e na cooperação, precisa manter a humanidade acorrentada a essa divisão anti-natural de classes sociais, porque só dessa divisão consegue extrair o óleo combustível da reprodução do capital.
Hoje não é mais possível lutar de modo conseqüente por direitos humanos sem incorporar as bandeiras da igualdade social substancial, bem como as temáticas do feminismo, do anti-racismo, da ecologia, da livre expressão da vida sexual, da defesa dos migrantes, da busca de uma cidadania mundial e igualitária. Mas esse feixe de propósitos convergentes e libertadores encontra diante de si uma muralha – que tem o nome de capitalismo. Desmontar essa muralha passou a ser condição para uma luta conseqüente pelos direitos humanos. A realidade não nos dá mais o direito de nos iludirmos como Poliana.

Palestra de José Damião de Lima Trindade que foi presidente da Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo, atuou no Grupo de Trabalho de Direitos Humanos da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo e presidiu, entre 1998 e 2000, a Comissão de Anistia Política para os servidores desse Estado.
Autor do livro “História Social dos Direitos Humanos”

domingo, 16 de agosto de 2009

Além de cana, agora estão queimando trabalhadores

A notícia é triste, mas não surpreende. Saiu o laudo que explica a morte de um trabalhador rural em Pontal, no interior de São Paulo: ele foi intoxicado pela fumaça da queimada da cana-de-açúcar. De acordo com a agência de notícias da EPTV, Sidney dos Santos, de 41 anos, acabou sendo carbonizado quando fazia a queimada na usina Bela Vista há pouco mais de um mês.

Relatório do Ministério do Trabalho e Emprego apontou falta de treinamento e ausência de equipamentos de segurança. Os trabalhadores usavam três linhas de fogo e não uma, como é o costume. Mas a opção pela rapidez no serviço também faz com que a queimada fique incontrolável. Neste caso, o vento forte também ajudou, redirecionando o fogo e atingindo o trabalhador.

Segundo a EPTV, o advogado da usina Bela Vista, Eduardo Velocci disse que a empresa “sempre segue as determinações legais. Fomos surpreendidos pela virada da natureza”. Como sempre é mais fácil culpar quem não pode se defender.

A usina foi multada em R$ 4 mil, uma fortuna, e terá que se ajustar. Segundo os auditores fiscais, a queima da cana naquela área ainda não estava liberada pelo Departamento Estadual de Recursos Naturais (DPRN).

Ontem, o corpo de outro homem foi encontrado carbonizado em um canavial, também em Pontal. A polícia investiga o caso como homicídio.

As queimadas (que estão com os dias contatos no Estado de São Paulo) ajudam a torrar o diferencial ambiental da cana-de-açúcar no Brasil, gerando graves impactos não só para o meio, mas também para quem mora perto das usinas. Agora, estão levando os cortadores – que já tinham problemas suficientes – junto.

Ruim com a queima, ruim sem a queima. O avanço da mecanização não resulta apenas no corte de vagas, mas na intensificação do desgaste físico por parte dos cortadores. A cana crua (não queimada) e deitada acaba “sobrando” para os trabalhadores manuais. Antes de fazer o corte, é preciso levantar primeiro os pés do chão, o que demanda um esforço adicional considerável. Muitos trabalhadores trabalham domingos e feriados (não têm descanso semanal remunerado) e, no sistema de trabalho em vigor, a usina impõe o ritmo.

A solução passa por criar alternativas de emprego e renda a esses trabalhadores que não as condições precárias, degradantes ou insalubres dos canaviais. Coisa que nós estamos devendo a eles, que enchem o nosso tanque de etanol com seu suor diariamente.

Texto de Leonardo Sakamoto, jornalista e Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu a guerra pela independência em Timor Leste e a guerra civil angolana. Foi professor do curso de jornalismo da ECA-USP e trabalhou em vários veículos de comunicação, tendo recebido prêmios na área de jornalismo e direitos humanos, como o Vladimir Herzog e o Prêmio Combate ao Trabalho Escravo. Empreendedor social Ashoka, é coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae).

Fonte: Blog do Sakamoto
http://colunistas.ig.com.br/sakamoto/2009/08/14/queimado-junto-com-a-cana-trabalhador-morreu-por-asfixia/

Etiqueta no Senado

Alô Chics!

Não faltava mais nada: esta semana assistimos, num misto de incredulidade e fascínio, ao senador Romeu Tuma ler no plenário um singelo manual de etiqueta, que ele próprio elaborou, convocando seus colegas a “observar regras de conduta”. Ou seja, a terem compostura e se portarem com um mínimo de civilidade e educação.

O manual tem oito pontos chave, e ao ler você pode pensar que ele está se dirigindo às mais violentas torcidas de times de futebol do país, a presidiários em revolta ou qualquer outro bando selvagem e de difícil controle. Nunca a senadores da República eleitos para legislar e ponderar sobre os rumos do país. Sem contar que são todos senhores de uma certa idade, e não adolescentes esquentados e descontrolados.

O “xerife”, como é conhecido o senador Tuma, pede que seus colegas não desacatem outros parlamentares, não usem palavras indecorosas e que procurem “manter atitude e posicionamento tranquilos e pacientes ao receber argumentos desfavoráveis”. Ou seja, que não gritem, não avancem um no outro e que não se chamem de “coronel de merda” como fez o senador Renan Calheiros, ao se dirigir ao seu coleguinha Tasso Jereissati. Isso sem contar a edificante imagem mostrada pela televisão do senador Fernando Collor de Mello entrando no carro e mandando o senador Pedro Simon para... aquela parte (que ele não teve tempo de explicitar pois a porta do carro foi fechada rapidamente, salvando o doce povo das Alagoas de um vexame ainda maior).

O pior de tudo é que parece que alguns deles, em vez de morrerem de vergonha do faroeste verbal, ainda se vangloriaram de que sua “macheza” no confronto com adversários tenha sido comemorada como prova de valentia e de bravura em suas zonas de influência eleitoral. Não acredito nisso, mas se for verdade, o quadro faz parte de um país que está com os dias contados.

O Brasil está se civilizando e breve, esperamos, não haverá lugar para esse tipo de comportamento nem no mundo político, nem em estádios de futebol, nem em lugar nenhum. Suas excelências, maneirem! E lembrem-se de que ninguém é chic se não for civilizado.

Escrito por Glória Kalil em 14/08/09
http://chic.ig.com.br/materias/514501-515000/514639/514639_1.html

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Links recomendados

Nossa luta se inspira em vários movimimentos anteriores, que estão descritos nos sites abaixo


Comissão Municipal de Direitos Humanos - CMDH (São Paulo/SP)

Comissão Extraordinária de Direitos Humanos, Cidadania, Segurança Pública e Relações Internacionais da Câmara Municipal de São Paulo

Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania - SJDC (SP)

Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo - CDH/ALESP

Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH

Movimento Nacional de Direitos Humanos - MNDH

DHNet - Rede de Direitos Humanos e Cultura

Organização dos Estados Americanos - OEA

Comissão Interamericana de Direitos Humanos - CIDH

Corte Interamericana de Direitos Humanos - CortIDH

Proibido não conhecer o Jd. Ângela

QUEM ENTENDER o que está por trás dos números do Jardim Ângela, um conglomerado de favelas na zona sul de São Paulo, com 250 mil habitantes, estará aprendendo a reduzir a violência no país. Sua taxa de homicídios caiu em 75%, entre 1991 e 2005. Durante 50 dias, no ano passado, ninguém morreu assassinado.
Esse movimento teve impacto nas demais estatísticas criminais de delegacias próximas, responsáveis por outros bairros além do Jardim Ângela. No 100º Distrito Policial, de janeiro a julho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2002, o índice de roubos, em geral, despencou em 52%; o de roubos de veículos caiu em 70%.

O Jardim Ângela foge do discurso fácil e das soluções simplistas: mostra que a combinação de repressão com prevenção, a partir da articulação local, funciona. É o que se vê em Bogotá, onde a taxa de homicídios desabou, em poucos anos, em 75%, redução semelhante à de Nova York.

Depois que o Jardim Ângela foi considerado a região mais violenta do planeta, iniciou-se ali, em 1996, uma mobilização liderada pelo padre irlandês Jayme Crowne. Surgiu o Fórum de Defesa da Vida, que hoje aglutina 200 entidades. Dessa pressão, foram criadas ali cinco bases de policiamento comunitário. Como os policiais tinham de conviver com a população, ganharam confiança e receberam informações sobre quem eram e onde estavam os criminosos.
Conseguiu-se, nesse processo, combinar Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Municipal. Paralelamente à rede de proteção policial montou-se uma rede de proteção social, sempre envolvendo a teia de parcerias. Para trabalhar com ex-internos da Febem, agora em liberdade assistida, associaram-se prefeitura, Abrinq e Telefônica. Na sexta passada, aliás, cerca de mil funcionários da Telefônica foram ao Jardim Ângela para um mutirão de reformas de espaços coletivos.

Graças a esse tipo de mobilização, recuperaram-se praças, clubes e escolas. Ofereceram-se programas de esporte, atividades de complementação escolar, tratamento contra o abuso de drogas e álcool. Com um acordo envolvendo o Ministério Público, acertou-se a redução do horário de fechamento dos bares. A prefeitura ofereceu abrigos para crianças e proteção às famílias em situação de risco, além de um núcleo para combater a violência doméstica, CASA SOFIA.
Em 2005 foi criada a Casa do Adolescente, para tentar evitar a gravidez precoce.
Acrescentem-se aí as dezenas de milhares de bolsas de renda compostas por recursos municipais, estaduais e federais -por serem integradas, o valor das bolsas aumentou.

Nem de longe o Jardim Ângela virou um paraíso, muito pelo contrário. Está distante, muito distante, de ser o campeão mundial da violência, mas ainda continua bem acima da média brasileira da criminalidade. Jayme Crowne está preocupado, especialmente, com o número de jovens sem perspectivas educacionais ou profissionais. "Esse é o ovo da serpente", diz São no Brasil 7 milhões de jovens, entre 14 e 25 anos, que nem estudam nem trabalham. Isso mostra que temos duas bombas que se juntam -a dos jovens e a das metrópoles.

Mas o que eles estão construindo, em essência, é um software de gestão para áreas conflagradas, por englobar do policiamento à gravidez precoce, passando pelo tratamento de viciados e pela educação em tempo integral.
A saída social brasileira reside em larga medida na habilidade de as comunidades se organizarem, mobilizarem seus indivíduos e aumentarem a eficiência dos recursos públicos.

Contra o crime organizado, o que funciona é a sociedade organizada.

P.S. - Veja no site (www.dimenstein.com.br) um dossiê sobre o Jardim Ângela.

Texto de Gilberto Dimenstein na Folha de São Paulo 20/08/2006, publicado também em AMOR, ORDEM E PROGRESSO

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

"Histórico dos Direitos Humanos no Brasil" por José Damião Lima Trindade

"Histórico dos Direitos Humanos no Brasil" por José Damião Lima Trindade

"A história é êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro." (Miguel de Cervantes)

Núcleo de Educação para a Cidadania e Direitos Humanos- NECIDIH e o
PROJETO DE FORMAÇÃO DE AGENTES MULTIPLICADORES EM CIDADANIA E
DIREITOS HUMANOS

Convidam para palestra:
“Histórico dos Direitos Humanos no Brasil”
c/ José Damião Lima Trindade
Dia 15 de agosto de 2009, as 16h00.

(José Damião foi presidente da Associação dos Procuradores do Estado de São Paulo, atuou no Grupo de Trabalho de Direitos Humanos da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo e presidiu, entre 1998 e 2000, a Comissão de Anistia Política para os servidores desse Estado. Autor do livro “História Social dos Direitos Humanos”.)
Local: CDHEP - CENTRO DE DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO POPULAR DE CAMPO LIMPO
RUA: DR. LUÍS DA FONSECA GALVÃO, 180- CAPÃO REDONDO, SÃO PAULO/SP
FONE: (11) 5511 97 62

Parcerias: CDHEP e Escola de Governo de São Paulo
Convênio: Secretaria Especial dos Direitos Humanos- Governo Federal

domingo, 9 de agosto de 2009

Campanha Ficha Limpa

Campanha Ficha Limpa

O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e o Comitê 9840 Estadual - São Paulo convidam: Ato público em apoio à Campanha Ficha Limpa / "300 mil assinaturas em 30 dias"

Já temos um milhão de assinaturas; agora faltam apenas 300 mil. Até o dia 7 de setembro, vamos juntos obter estas assinaturas para que o Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre a Vida Pregressa dos Candidatos seja encaminhado ao Congresso Nacional. É a participação popular mudando a história do combate à corrupção eleitoral no Brasil! Contamos com a sua presença.Desde o ano passado estamos executando a Campanha Ficha Limpa, que apresentará ao Congresso Nacional o novo Projeto de Lei de iniciativa popular que trata da vida pregressa dos candidatos. Superamos muitas barreiras até atingir um milhão de assinaturas. Agora precisamos concluir nossas atividades de coleta, obtendo as 300 mil assinaturas que ainda faltam.
Para isso estamos convidando todas as organizações e redes que participam ou apóiam o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) para que centrem todos os seus esforços a fim de promoverem uma ampla coleta de assinaturas entre os dias 7 de agosto e 7 de setembro, remetendo todo o obtido ao Movimento até o dia 9 de setembro.

É a Etapa 300 em 30 da Campanha Ficha Limpa (300 mil assinaturas em 30 dias).


Imprima já o abaixo-assinado da Campanha Ficha Limpa e participe

Mais informações
Etapa 300 em 30 da Campanha Ficha Limpa: 300 mil assinaturas em 30 dias (07.08.2009 a 07.09.2009)
A REAÇÃO COMEÇOU!

1. Coleta em espaços públicos e organizações sociais

Uma estratégia segura para obtenção de grande número de assinaturas consiste na visita a universidades, fábricas, CEFETs, igrejas etc. Visites esses lugares, deixe ali os formulários explicando os objetivos da campanha e marque data para voltar para recolher. Mas atenção: busque sempre alguém responsável por garantir a arrecadação das assinaturas, cobrando a devolução dos formulários. Se você só distribuir formulários sem que alguém fique responsável pela mobilização dificilmente conseguirá um número significativo de assinaturas.

Procure se articular com lideranças da comunidade tais como padres, pastores, lideranças comunitárias, dirigentes sindicais, diretores de escola, reitores, presidentes de diretórios e centros acadêmicos, membros da maçonaria, Rotary e Lions Club etc. São bons parceiros e pessoas capazes de mobilizar o apoio de que necessitamos.

2. Auxílio de lideranças políticas

Alguns prefeitos, vereadores e deputados já anunciaram apoio à campanha e estão coletando assinaturas. Procure as lideranças políticas do seu município sem fazer opção pelo partido A ou B. Quem quiser ajudar será sempre bem-vindo. Nossa luta é pela edificação de novos padrões éticos e não pela hegemonia de uma bandeira partidária. É claro que não vamos procurar pessoas de imagem associada à corrupção, mas a rigor elas dificilmente vão querer ajudar uma campanha que porá fim ao seu “reinado”. Eles são líderes e possuem diversos apoiadores. Se quiserem podem contribuir com muitas assinaturas. Conhecemos experiências de prefeitos que estão pedindo a todos que colaborem.

3. Organização de eventos

É sempre interessante participar de eventos com a coleta de assinaturas ou até mesmo organizá-los para esse fim.

No primeiro caso, podemos conversar com os organizadores de encontros, retiros, acampamentos religiosos, seminários e congressos, propondo-lhes a abertura de algum espaço para a divulgação da campanha. Depois é só coletar com os voluntários as assinaturas dos presentes ou pedir aos promotores do evento que se encarreguem dessa coleta.

Sobre a organização de eventos surgiram idéias de shows, partidas de futebol e até uma “feijoada da ficha limpa”, em que o ingresso seria certo número de assinaturas para a nossa campanha. Para organizar esses eventos é preciso contar com o apoio de organizações ou empresas que se predisponham a patrocinar as atividades. Depois é só distribuir antecipadamente os formulários da campanha, que devidamente preenchidos servirão como ingresso.


Fonte:Escola de Governo / Notícias / Campanha Ficha Limpa
http://www.escoladegoverno.org.br/index.php/noticias/197-campanha-ficha-limpa

Chico Whitaker fala sobre Campanha da Ficha Limpa

Postagem em 10/08/09 às 18:29

A “presunção de inocência” e a realidade, nos processos judiciais

Chico Whitaker

Muitos se opõem à Campanha da Ficha Limpa por respeito ao principio da presunção de inocência. Acham que não se possa negar a inscrição, como candidatos a postos eletivos, a pessoas cuja sentença condenatória, por crime que tenham cometido, não tenha ainda sido revista na última instância de recurso possível (ou seja, não tenha ainda “trânsitado em julgado”).

Ora, o artigo escrito pelo Ministro Jorge Hage, da Controladoria Geral da União (publicado na Folha de São Paulo – Tendências e Debates – de 3 de julho de 2009) vem em boa hora mostrar a quantidade de recursos que podem ser interpostos, no Brasil, para postergar essa “decisão final”. Ele diz, nesse artigo:

Esperar o trânsito em julgado “quer dizer que se tem que esperar a interposição e o julgamento, pelo menos, dos seguintes recursos: um ou vários recursos em sentido estrito e um ou vários embargos declaratórios no primeiro grau; uma apelação após a sentença; um ou vários embargos declaratórios e um embargo infringente no tribunal de segundo grau; se houver alguma decisão do relator, mais alguns declaratórios e um agravo regimental; depois, vem o recurso especial (para o Superior Tribunal de Justiça) e o extraordinário (para o STF); se inadmitidos estes pelo Tribunal de Justiça (ou Tribunal Regional Federal) vem o agravo de instrumento para forçar a admissão, o qual será examinado pelo relator, de cuja decisão podem caber novos agravos regimentais e embargos declaratórios (que aliás cabem de cada uma das decisões antes mencionadas, e repetidas vezes da mesma, bastando que se diga que restou alguma dúvida ou omissão). Cansados? Pois nem falamos ainda nas dezenas de outros incidentes processuais que os bons advogados sabem suscitar, dentro ou fora das previsões legais expressas, alem dos hábeas corpus e mandados de segurança, em quaisquer das instâncias”.
O Ministro Hage conclui: ...“até as pedras sabem que isso vai demorar pelos menos uns 15 ou 20 anos”...
Será que a sociedade está mesmo impedida - sem considerar que pessoas já condenadas que continuam “recorrendo” sejam “culpadas” - de tomar algumas precauções quando essas pessoas pretendem representar seus concidadãos em funções políticas?
*
Leia o artigo de Jorge Hage na íntegra ("Sobre Madoff, inveja e soluções") em: http://docs.google.com/View?id=dgx3c728_111ct5vnkcw
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Fonte: CAMPANHA FICHA LIMPA São Paulo
http://campanhafichalimpasp.blogspot.com/2009/08/chico-whitaker-comenta-artigo-de-jorge.html

sábado, 8 de agosto de 2009

Link para cartilha "Enfrentando os desafios da representação em espaços participativos"

Olá, pessoal! Este é meu primeiro post aqui, para disponibilizar nosso material.

Faça o download da cartilha

Disponibilizamos para download a cartilha "Enfrentando os Desafios da Representação em Espaços Participativos". Organizado pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), a publicação é resultado de pesquisas e discussões realizadas nos últimos anos em torno do tema da representação da sociedade civil em espaços participativos. A proposta foi fazer um material mais didático a partir destes resultados e discussões, que poderá ser usado em atividades formativas. Temos utilizado este material para formar multiplicadores, inclusive no curso de formação de multiplicadores em cidadania e direitos humanos. Boa leitura!

Clique aqui e faça o download da cartilha

Fonte: http://www.polis.org.br/tematicas.asp?cd_camada2=212&cd_camada3=&cd_camada4=


terça-feira, 4 de agosto de 2009

Podemos comemorar os três anos da lei 11.340?

Neste 7 de agosto comemoramos mais um ano de vigência da lei 11.340, de lei Maria da Penha.

Devemos comemorar?

Podemos comemorar?

A sociedade avançou na defesa dos mais fracos?

A sociedade evoluiu na defesa e nos direitos da mulher?

As mulheres deixaram ser dependentes do homem?

As mulheres conseguem abandonar seus agressores?

As campanhas de divulgação dos direitos das mulheres chegaram às favelas?

As campanhas de divulgação dos direitos das mulheres chegaram às grã-finas, às socialites?

As faveladas analfabetas, as universitárias pobres e ricas e as dondocas valem valer seus direitos?

O homem agressor finalmente se convenceu que a mulher só merece carinho?

O homem teme a justiça definida na lei 11.340

O homem favelado e analfabeto tem medo da lei 11.340?

O homem rico e instruído tem medo da lei 11.340?

Quais os próximos passos para conquistarmos uma sociedade mais justa?

Quais os próximos passos para conquistarmos uma sociedade mais igualitária?

Quais os próximos passos para conquistarmos uma sociedade com mais AMOR?

Quais os próximos passos para conquistarmos uma sociedade com mais ORDEM?

Quais os próximos passos para conquistarmos uma sociedade com mais PROGRESSO?

Quais os próximos passos para que não precisemos mais de leis, pois todos e todas se respeitarão e juntos homens e mulheres possamos trilhar os caminhos do RESPEITO E DO AMOR MÚTUO

Texto José Geraldo da Silva